Suponhamos que alguém não conheça absolutamente nada sobre uma determinada mulher, uma certa mulher que tem por nome Marina, mas que poderia chamar-se Flora ou qualquer outra qualificação que evoque a natureza, a floresta, o meio ambiente. Que desconheça quem é, o que faz, o que fez, de onde veio essa pessoa que leva a selva no próprio sobrenome, que é o mesmo nome de família da maior parte dos brasileiros: Silva, do latim silva, que significa, precisamente, floresta. Que não se lembre mais (pois já faz muito tempo: quase dez dias!) que ela renunciou ao cargo de Ministra do Meio Ambiente do Brasil.
Para dar conta dela e do seu trabalho, muita gente poderia depor a seu favor: desde Marcelo Furtado, diretor do Greenpeace no Brasil, até Anthony Hall, professor da London School of Economics, especialista em desenvolvimento sustentável e pesquisador de questões ligadas à floresta amazônica há mais de 20 anos; de Aécio Neves, governador de Minas Gerais, eleito pelo oposicionista PSDB, a José Aníbal, líder desse mesmo PSDB na Câmara; desde Claudio Sales, presidente do Instituto Avança Brasil, até André Villas-Boas, coordenador do programa Xingu do Instituto Socioambiental, passando por José Carlos Carvalho, ex-ministro do Meio Ambiente no governo Fernando Henrique Cardoso, que foi taxativo: "A saída de Marina Silva é uma derrota da política ambiental brasileira, pois significa que ela não pôde viabilizar aquilo que parte da sociedade brasileira acha que precisa ser feito."
Isto implica que outra parte da sociedade brasileira acha necessário fazer algo totalmente diferente, boa parcela da qual integra o seleto grupo dos 10% de brasileiros mais ricos que concentram 75% da riqueza nacional - e que, lógico, pretendem ser 5% com 90% da riqueza nas mãos. Estes dizem muito melhor de Marina Silva do que os entusiastas do seu trabalho.
O produtor rural e presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato), Rui Prado, por exemplo, avalia que a ministra sempre foi "muito radical", e acrescenta: "Ela sempre colocou o meio ambiente acima de tudo, quando era preciso incluir também aspectos econômicos e sociais nessa discussão para atingir a tão falada sustentabilidade".
Já o presidente da Associação dos Cafeicultores do Paraná e ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Luiz Suplicy Hafers, considera que Marina Silva "sempre assumiu uma postura intransigente, prejudicial à causa ambientalista", e sintetiza: "Ela exagerou na dose".
Para Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso, "ela era uma pessoa que tinha preconceitos. Ela não estava preocupada com o desenvolvimento do país, não que a questão do meio ambiente não seja importante, é muito importante, mas ela nunca pensou no desenvolvimento sustentável, ela sempre pensou no 'não' desenvolvimento." Produtores de soja vivem querendo nos convencer de que plantam soja na floresta sem derrubar árvores nem aterrar lagoas, e que as fazendas são propriedade privada deles, quando nunca gastaram um centavo para comprar terras que jamais estiveram à venda.
Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente nacional da conhecidíssima União Democrática Ruralista, a conservadora e reacionária UDR, desovou uma pérola: "Esse ranço que a Marina Silva tem, que é explícito, esse ódio que ela tem contra produtor rural, isso prejudica gravemente a cadeia produtiva. A política dela no quesito meio ambiente foi desastrosa."
Ao permitir o surgimento de condições para que Marina Silva, seringueira, negra e ex-analfabeta, deixasse o Meio Ambiente, Lula pode ter cometido o grande erro do seu governo.
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