domingo, 13 de julho de 2008

Maçonaria - Entrevista

A entrevista que segue, foi desenvolvida por André Fernando Zen e Roberto Ramos Ferreira Junior para um trabalho acadêmico sobre a Maçonaria na disciplina de História Antiga I, sob orientação da professora Carla Fernanda da Silva. A entrevista foi realizada por e-mail, no mês de junho de 2008. O entrevistado tem 42 anos e mora em Brusque, Santa Catarina.

1- Para dar uma introdução à entrevista e a todos, gostaria que você falasse sobre as origens da maçonaria. Quando a ordem foi criada, por quem, qual era seu objetivo, o que pregava, etc...

R: A Maçonaria teve origem nos grupos de pedreiros-livres, artesãos que se dedicavam à construção de grandes obras como as famosas catedrais góticas da Europa, por volta do ano 1356 e tinha como objetivo firmar o conhecimento herdado e com o domínio desse aprendizado coordenar as construções.

2- Existe alguma diferença, de modo geral, sobre a maçonaria dos dias antigos para a maçonaria do séc. XXI? Se possível, faça um paralelo entre as duas.

R: Genericamente falando, a Maçonaria surgiu em 1356 entre homens construtores de templos religiosos e a partir das reuniões que realizavam após o encerramento dos trabalhos, a fim de rever o que fizeram naquele dia e projetar o trabalho do dia seguinte, os mestres de obras, juntamente com os demais operários passaram a estudar e criou-se a Maçonaria Operativa, vinculada portanto ao trabalho.

A partir de 1717 e já sem conseguir dominar a arte de construção e às portas do Iluminismo, começaram a aceitar membros que não dominavam a arte de construir e então homens de diversas profissões e fidalgos passaram a fazer parte das reuniões e criou-se então a Maçonaria Especulativa, a qual perdura até nossos dias, agora como construtores do “templo moral” de cada maçom e não mais como construtores físicos.

3- Por ser considerada uma das ordens mais organizadas o mundo (ou a mais), imaginamos que deva existir uma certa hierarquia entre os membros. Você poderia falar sobre ela?

R: A única hierarquia admitida na maçonaria diz respeito aos graus simbólicos, os quais são divididos em etapas de conhecimento por: Aprendizes, Companheiros e Mestres. Exercitadas unicamente dentro dos templos maçônicos.

Não se admite na Ordem a desigualdade e a crença cega que leve a preconceitos de cor, religião, profissão, status social ou credo.

4- O que se exige dos maçons, em termos de atitudes?

R: Basicamente se exige que seja homem livre e tenha bons costumes, ou seja, que não esteja aprisionado por preconceitos de toda ordem, defenda acima de tudo a verdade, ame a justiça, a família, o trabalho e os irmãos.

5- Onde são praticados os encontros entre os maçons? Existe alguma espécie de lugar especial?

R: Normalmente os maçons se encontram e realizam suas reuniões, denominadas Sessões, em Templos Maçônicos especialmente construídos, mas nada impeça possa ser realizada sessões em outro lugar, desde que longe dos olhos das demais pessoas.

6- Sabe-se que a maçonaria é presente em todo o mundo. De lugar para lugar há diferenças de um modo geral?

R: A maçonaria é universal, ou seja, os princípios, símbolos e formas de reconhecimento são únicos, mas peculiaridades locais, ditadas principalmente pelo avanço ou retrocesso cultural, pode ocasionar pequenas diferenças que não afetam a sua essência.

7- A maçonaria é conhecida por pregar a Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Qual é a situação da ordem em países comunistas, por exemplo?

R: O que sabemos é que em países comunista, principalmente Cuba, a Maçonaria tem um bom relacionamento. Fidel Castro, inclusive, foi salvo por um militar maçom que o prendera em 1959 durante a Revolução Cubana e, às vésperas do fuzilamento, após reconhecê-lo como Irmão, permitiu sua fuga. Agora, nos países totalitários ela inexiste ou se existe é tão fechada que sua história e suas obras são desconhecidas. Mas, pelos ideais pregados pela Ordem não é difícil perceber que os ditadores não permitam sua existência, sob pena de colocar em risco a própria sobrevivência do regime por eles defendido.

8- A maçonaria possui alguma ligação com a Rosa-Cruz? Caso haja, sinta-se a vontade para comentar as ligações.

R: Na fase especulativa da Maçonaria, a partir de 1717, teve influência dos Rosacruzes, cabalistas, alquimistas e outros, pois as idéias do Iluminismo ganhavam corpo e a razão se sobrepunha às ditas verdades da época. Ganhava espaço a filosofia, a especulação da verdade sobre a tradição operativa reinante e já decadente. A semelhança está em que ambas tem ritual de iniciação, simbologia e formas de reconhecimento próprio, mas com significado parecido.

9- Repetindo a pergunta anterior. Qual a ligação da maçonaria com os cavaleiros templários?

R: A ligação, estreita, diga-se de passagem, refere-se ao poder que os Cavaleiros Templários tiveram em seu tempo, com grandes riquezas. Seus contatos atraíram conhecimento filosófico e místico e de certa forma também influenciaram a Maçonaria especulativa.

10- Qual a importância da maçonaria para a história das Américas, e do Brasil principalmente?

R: Foram no seio das sessões maçônicas que surgiram os ideais revolucionários, com Simon Bolívar na américa espanhola; no Brasil, com Tiradentes e aliados na Inconfidência Mineira, embrião da Independência, com Dom Pedro I, José Bonifácio, Gonçalves Ledo na Independência, na luta pela proibição de importação de escravos e da Abolição da Escravatura, da instauração da República, etc

11- Para finalizar, deixo este espaço livre para você colocar algo que considera importante e que não foi perguntado. Ou para esclarecer algum mau entendido, que acontece muitas vezes por pessoas que falam sem conhecer a ordem. Este espaço fica a sua disposição. E, mais uma vez, obrigado pela entrevista!

R: A Maçonaria tem o trinômio Liberdade-Igualdade-Fraternidade. Seus membros lutam pela busca da justiça, da liberdade de opinião e da verdade. Combate o obscurantismo, o vício e as mazelas sociais. Se firma pelo exemplo em todos os segmentos sociais. Enfim, pugnam pela sociedade mais justa, humana, fraterna e acolhedora. Os maçons têm um ditado que diz: “Eu não estou maçom, eu sou maçom”.

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